Proposta de Delimitação do Termo de Alcácer, segundo os elementos existentes num documento da Chancelaria de D. Sancho I, a favor da Ordem de Santiago.
A localização do Torrão em termos de circulação terrestres/fluvial, desde o Periodo romano até à Idade Média
1. A Primeira Fase.
O topónimo Turrus, usado em contexto islâmico para o actual Torrão, corresponde a uma adaptação fonética da palavra latina Turres.
Trata-se de um topónimo bastante comum no al-Andalus e de difícil interpretação, porque está sujeita a várias leituras.
Pela nossa parte e na sequência do que temos vindo a expor, defendemos a hipótese de este “turrus” corresponder a uma ocupação tardo romana com funções de “mansio/estalagem”, de apoio à via romana que por aqui passava.
O período islâmico no Torrão, é um capítulo ainda por escrever.
Os únicos dados disponíveis, permitem uma leitura para a fase final do século VII, ainda em contexto Visigótico e algumas décadas antes da invasão. Depois a partir do século XII, voltamos a ter alguns elementos, coincidindo estes com a afirmação do poder almóada neste território, em disputa com o Reino de Portugal.
Entre o ano 700 e 1184 o silêncio é total, ou seja:
- Com base nos dados disponíveis, estamos convictos de que terá existido uma presença humana neste espaço durante o período islâmico, em moldes e ritmos de apropriação do território que nos escapam.
A sugestão de que o Torrão terá sido, desde a Antiguidade Tardia e Islamização, o “centro administrativo deste território”, é uma hipótese interessante e viável que aceitamos, mas que necessita de mais elementos de analise.
Só em contexto português do século XIII, em 1260, é que a Vila do Torrão emerge como sede de município, emancipado de Alcácer, após atribuição de uma Carta de Foral que entretanto desapareceu.[1].
Trata-se de uma situação similar com o que se passou com Santiago do Cacem,
Em ambos os casos, estamos perante um padrão que não nos parece ser coincidência, mas antes, ter resultado de uma linha de acção por parte da Ordem de Santiago, que necessita de ser aprofundado.
Até que ponto, a ausência de documentação já referida, traduz ou não, ausência de povoamento ou “vazio administrativo”.
Tomemos como exemplo o caso de Palmela:
- O castelo só é referido nas fontes muçulmanas e portuguesas em meados do século XII, contudo as escavações arqueológicas no seu interior, demonstraram a sua existência, desde o século VIII. Pensamos que é neste quadro que devemos olhar para o Torrão.
Em termos geográficos, o Torrão localiza-se quase a meio caminho entre três cidades importantes do Garb al-Andalus:
- Al-Qasr/Alcácer, Évora e Beja.
O acesso a estas medinas, ou entre elas, só podia ser efectuado por via terrestre.
Este facto “obriga” a permanência de uma presença humana no Torrão, para “apoio viário” e servir os interesses políticos das medinas vizinhas.
O poder instalado nas principais urbes do Garb “não olhavam” com simpatia os “nómadas”, islamizados ou talvez não, que deambulavam por este território.
Um bom exemplo desta preocupação é o que aconteceu após a pilhagem e destruição de Évora, por Ordonho no Verão de 913.[2], relatado por Ibn Hayyan, na sua obra, al-Muqtabas, Vol V, p. 62-64.[3]
Um dos elementos mais interessantes deste relato, reside na opção de Ordonho em atacar Évora.
Porque atacou ele esta cidade e não Alcácer ou Badajoz?
O texto que chegou até nós, permite fornecer parte da resposta:
- Segundo o cronista, as defesas da cidade estavam bastante deteoradas e o lixo acumulava-se junto à muralha, mostrando um desleixo que também traduz ausência de conflitos (graves!) no espaço envolvente.
Outra questão que nos surpreende é o conhecimento que as tropas cristãs têm do território islâmico e o estado das suas defesas, sugerindo cumplicidades da parte do campo muçulmano e redes de espionagem, que sabemos terem existido em ambos os lados.
O que o texto nos transmite é que imediatamente após o saque, as tropas cristãs rumaram directamente para a Galiza, mostrando deste modo preocupação pelo tipo de reacção do campo muçulmano.
Outro dado interessante que nos parece interessante constatar, é o aparente desinteresse dos Banu Danis instalados em Alcácer, em anexar Évora, quando esta ficou despovoada.
A iniciativa de recuperar Évora, coube unicamente ao soberano de Badajoz, que deste modo pode instalar um aliado nesta cidade e reforçar a aliança que tinham com os alcacerenses.
Após uma fase aparentemente estável durante o Período Califal, ao longo do século X, nos inícios do século XI, esta região regressou novamente à instabilidade política, que irá afectar “gravemente”a estrutura económica e demográfica de toda esta região.
Nesta fase, o Torrão localizava-se na “linha de fronteira” que foi estabelecida entre os dois reinos de Taifas mais importantes do Garb; - Sevilha e Badajoz.
Os vários autores muçulmanos que “laconicamente” referem esta região, são unânimes em frisarem a enorme insegurança que então se vivia.
Segundo Ibn Idari[4]
(p. 1667-168) “Conflitos de los primeiros aftasíes:
En el 421/1030 hubo conflictos y guerras entre Isma´il bn di-l-Wizaratayn Abi-l-Qasim el qadi con Ibn al-Aftas. El sevillano pidió ayuda a Ibn ´Abd Allah al-Birzali, sahid de Carmona, centro de la fitna, y este cerco a Ibn al-Aftas en Baya (Beja), le mato a muchos hombres e hizo prisionero al hijo de Ibn al-Aftas y lo encarceló. Llegó esta algazúa de Ibn al-Aftas hasta el limite... [5]
(p. 169) “Y de las cosas sabidas de memoria está que al-Mu´tadid continuó la guerra con Ibn al-Aftas en los meses del año 442/1050-51 y que conquisto gran número de castillos que unió a su ´amal, los fortifico con sus hombres; destruyó sus amplas edificaciones, arraso sus cosechas y arrebato su ganado. No fue capaz al-Muzaffar de defenderse un solo palmo y se refugio en Badajoz, de donde no salió ni un solo caballero. Al quejarse de su situación a sus aliados no encontro ningún partidário ni defensor. Cuando concluyó al-Mu´tadid el sometimiento de su território, decidió volver a Sevilla en sawwal de ese año.[6]
É provável que a estabilidade nesta região só chegue de uma forma clara após 1094, quando os Almorávidas anexam a Taifa Aftássida de Badajoz ao seu império.
Os períodos de “paz” em termos documentais, coincidem quase sempre com vazios de informação, dado que a quase totalidade dos relatos conhecidos só descrevam actos bélicos.
Mais uma vez, a região do Torrão regressa ao seu “longo silêncio”.
2. O Torrão nos Séculos XII-XIII.
Após 1145, o Emirato Almorávida em crise, entra em colapso e acelera o desvio de tropas para o Magreb onde luta pela sua “sobrevivência” fase à revolta dos Almóadas.
No al-Andalus, perante o “vazio” da autoridade Almorávida, e o emergir de movimentos de natureza sufista, favorece a eclosão de revoltas. Este vazio de “valores e de legalidade de natureza política”, cria um grande desconforto no campo islâmico, agravado com o avanço cristão para sul.
O campo muçulmano fragmenta-se e as “lealdades” são estabelecidas com os “Senhores da Guerra”, sejam eles cristãos ou muçulmanos, dissidentes ou não[7].
É nesta fase que em 1158, os alcacerenses liderados por Ali Whahibi solicitam ajuda militar a D. Afonso Henriques, para não serem anexados ao Império Almóada.[8]
Os senhores locais revoltam-se e assumem o poder nas várias cidades do Garb, procurando estender a sua autoridade nos castelos mais próximos, dando origem às II Taifas.
Mais uma vez, a localização do Torrão, numa zona de fronteira de “áreas de influência”, entre Évora, Alcácer e Beja, impede-nos de aferir em que realidade politica terá sido inserida.
Tendo em conta o papel de “esvaziamento gradual” que a medina de Beja vai sofrendo desde o Período Califal, como pólo cultural e administrativo, não nos surpreende que a passagem dessas funções seja assumida pelas “elites” instaladas em Évora e Alcácer.
Não podemos esquecer que Alcácer em contexto Almorávida, terá sido escolhida para sede militar da Fronteira do Garb, dominando um território que em termos de hierarquia lhe devia obediência e que se estendia desde as praias da Comporta até aos primeiros picos nevados da Sierra de Gredos, na vizinhança da actual Comunidade Autónoma de Madrid.
Este mecanismo de gestão, permitiria articular de forma adequada a gestão da informação”sensível” e a colecta de recursos necessários para o aparelho militar e desenvolvimento económico.[10]
Apesar do tamanho desmedido do espaço geográfico à responsabilidade de Alcácer, esta cidade possuía o seu espaço económico específico, que geria de forma directa.
Este território que coincidia com a bacia do Médio e Baixo Sado, incluiria naturalmente o Torrão.
Na realidade, seria errado para o poder muçulmano, não prestar atenção a este castelo.
Não é só a questão estratégica do Torrão que contava, localizado entre duas cidades da bacia do Sado[11], mas sim aproveitar os seus recursos naturais, as florestas, a circulação fluvial, os seus campos férteis, propício à criação de gado, dando estímulos para a manutenção de “rotas comerciais”.
Aceitando esta leitura, de que existe uma presença humana no Torrão desde meados do século VIII, que gradualmente se vai islamizado, que “paisagem humana” vão os portugueses encontrar no decurso do século XII?
A chancelaria de D. Sancho I possui um documento que importa analisar de forma adequada.
2.1. A Análise do Documento de 1186, a favor da Ordem de Santiago.
O documento foi emitido a 28 de Outubro de 1186.[12].
1186 Outubro 28 – Doação dos Castelos de Alcácer, Palmela, Almada e Arruda, com seus termos, a Sancho Fernandes, mestre da milícia da Ordem de Santiago, e aos seus sucessores.
In Dei nomine. Quoniam morum assiduitate et legis sanctione didicimus quod acta uirorum bonorum scripto commendari debeant ut commendata ab hominum memoria non decidant et omnibus pretérita presentialiter consistant, iccirco ego Santius Dei gratia Portugalensium rex magni regis domni alfonsi et regine domne Mahalde filius, una cum uxore meã Regina domna Sanctia, facio cartam donationis et firmitudinis perpetue uobis domno Sactio Frenandi, Dei gratie Milicie Sancti Iacobi magistro, et fratribus uestris presentibus et futuris de illis méis castellis, scilicet lcazar, Palmela, Almadana et Arruda. Damus itaque uobis atque concedimus prenomonata castella cum omnibus suis terminis nouis et ueteribus in Honoré Dei et Beati Iacobi apostoli ut uos et omnes uestri Ordinis successores ea et quicquid in eis ad ius regale pernet iure hereditário habeatis et perpetuo possideatis tali uidelicet condicione ut mihi et filiis méis et nostris successoribus cum eis obediendo seruatis...
Delimitação do Termo de Alcácer.
In primo per lombum de serra de Alcazouis quomodo ferit in Exarramam et ultra Exarramam per lombum quomodo uadit ad capita de Seuerena et de ipsis capitibus quomodo ferit charnecha in monasterium quod iacet in ripa de Odiuelas et uktra Odiuelas sicut uadit directe ad forcadas de Alfondom et de ipsis forcadas quomodo uadit directe ad Alualadi et de Alualadi quomodo uadit lombum inter Coronam et Benetolat usque ad cerrum de Monte Acuto et per aquam que descendit de Monte Acuto usque ad maré. Et de predictis Alcazouis sicut uadit directe ad fontem de Chiriana et inde sicut uadit directe ad serram de Arloch et sicut uadit de ipsa serra ad Rengiam et Rengia ad cimalias de Campo Maiori et inde quomodo ferit cerrum in Caniam...
Et termini de Palmela iuntent se cum terminis de Alcazar et de Almadana.
Delimitação do Termo de Alcácer em 1186 (Área Norte), atribuído à Ordem de Santiago, segundo a documentação de D. Sancho I.
Comentário:
Tendo em conta que a documentação administrativa muçulmana simplesmente “desapareceu”[13], a documentação cristã coeva desta fase, reveste-se de um valor inestimável.
Antes de passarmos à sua análise, convêm termos presente os seguintes aspectos:
1. Relativo desconhecimento geográfico do território conquistado, procurando-se apoio nas populações conquistadas, de modo a apreenderem os enquadramentos administrativos dos espaço conquistados. Mesmo em tempo de guerra, é importante manter os antigos “circuitos económicos” e a hierarquia do povoamento.
2. Desconhecimento da Língua Árabe e Berbere, o que provocará adaptação ou transformação da toponímia pré-existente:
- Adaptação fonética dos sons árabes ou simplesmente atribuir novas denominações, quando o significado é obscuro ou a sua pronunciação oferece dificuldades aos novos senhores.[14]
É óbvio que a documentação cristã, neste caso a portuguesa, não está interessada em reproduzir a realidade do território islâmico que vai sendo anexado por conquista, porque o destinatário não é a população muçulmana e muito menos as suas elites, daí o carácter lacónico deste tipo de informação disponibilizada para “memória futura”.
Os objectivos, que incentivaram a produção deste tipo de documentação, podem ser de várias naturezas:
- Por um lado, permitem de uma forma clara, reforçar o papel do rei, como senhor “legítimo do espaço conquistado”, tendo como testemunha Deus, os Apóstolos e a sua “corte”.
- Deste modo e para “memória futura”, o novo território começa a ser retalhado e distribuído aos grupos de interesse, consoante o interesse político do momento.
Apesar de ser rei, é-lhe impossível gerir o reino sem aliados, sejam eles quem forem!
No presente caso a quem se destina o documento e que informação nos pode revelar?
Este documento é uma “prova pública” que D. Sancho I utiliza para legitimar e continuar a vontade de seu pai, D. Afonso Henriques, no agraciamento à Ordem de Santiago, criando-lhe uma base territorial, para a continuação da conquista para sul.
Mas até que ponto este documento é fiel testemunho do território inserido em espaço cristão?
É provável, que em 1186 se tenha assistido a um retrocesso territorial.
Certos documentos são como certas leis:
- São elaboradas quando surgem dúvidas ou é necessário resolver problemas. Numa época em que as fronteiras são bastante “volúveis”, a sua fixação em documentação escrita, é uma garantia “para o futuro”, de que permanecerão intactas, quando vierem “melhores dias”.
É neste “contexto” que incluímos este documento. Para isso chamamos a atenção para os seguintes aspectos, que importa comentar:
1 – Elemento anómalo - A datado. Outubro (28) de 1186.
Convêm para isso, relembrar a conjuntura política da época.
Segundo os dados disponíveis, sabemos que a primeira conquista portuguesa de Alcácer data de 1160.[15]
Entre 1160 e 1164, Alcácer comporta-se como um enclave português em espaço islâmico.
Carência de meios militares e humanos, que contribuem para um “desinteresse” em ocupar o espaço rural, pouco contribuem para mudar este panorama, porque o saque do território islâmico é mais estimulante em termos económicos.
Um bom exemplo é o saque de Beja efectuado em 1162, numa acção comandada por Fernão Gonçalves e apoiada por cavaleiros-vilão de Coimbra e Santarém. A cidade será pouco depois abandonada.[16]
Contudo, por uma questão estratégica em relação à cidade de Lisboa, os castelos da Arrábida (Palmela, Coina e Sesimbra) são conquistados em 1164 e mais uma vez pouco sabemos como terá sido efectuada essa conquista, porque mais uma vez, as fontes são lacónicas e pouco claras.
Pouco depois chega a vez da cidade de Évora, por iniciativa “particular” de Geraldo sem Pavor, que pouco depois a “vende” ao rei.
O que verificamos é que entre 1160 e 1165, a iniciativa parece repousar em “milícias populares” e “aventureiros”, que em busca de pilhagem, contribuem para dilatar”de forma informal”, o Reino de Portugal.
Este estado de coisas parece continuar nos anos seguintes. O poder almóada pouco faz e quando reage, poucos resultados práticos obtêm. Por vezes, obtêm mais vantagem estratégica, nas tréguas celebradas entre os beligerantes. É o que acontece com a trégua de 5 anos celebrada em 1174 e a entrega pelos portugueses, das “ruínas” da cidade de Beja ao poder almóada, que prontamente investe na sua recuperação.
Mas os almóadas não desistem de recuperar Alcácer e após o final das tréguas os combates são retomados.
É de aceitar como hipótese, que desde 1160 e até meados de 1180, a influência e raio de acção dos portugueses instalados em Alcácer, consigam progressivamente alcançar um “reconhecimento” do seu domínio territorial até Alvalade e à foz do rio Mira, estabelecendo as “bases futuras” do território a atribuir à Ordem de Santiago, debaixo do domínio Alcacerense.
Em 1170, D. Afonso Henriques emite uma Carta de Foral para protecção da comunidade mourisca de Lisboa, Almada, Palmela e Alcácer. Curiosamente a comunidade mujedar de Évora não é referida.
O desastre almóada de 1184 frente a Santarém vai provavelmente alterar o quadro político da região e o comportamento entre os beligerantes.
Avançamos a hipótese de ter sido na sequência deste “fatalidade” para os almóadas, que se dá a conquista do Hisn Turrus/Torrão até então na posse portuguesa.
É curiosamente após o episódio de Santarém que se assiste à emissão de nova documentação régia, desta vez para favorecer a fixação de população cristã a sul do Tejo, no eixo que vai de Palmela a Évora, passado por Alcácer.
Terá existido um Foral atribuído a Alcácer, em data anterior a 1185, referido no Foral de Palmela e que se perdeu.
Um ano depois é emitido o presente documento.
Se pusermos como hipótese de trabalho, que a conquista almóada do castelo do Torrão, vai criar um ponto avançado muçulmano entre Alcácer e Évora, parece-nos natural que o território a sul do Torrão e anteriormente sob a influencia portuguesa, passe de facto para a esfera muçulmana.
É neste novo contexto político que vemos a necessidade de emitir este documento:
- O que se procura, é transmitir um documento que legitime futuramente a inserção do território, que vai desde o Torrão até à foz do rio Mira, de novo para o património da Ordem de Santiago, quando for efectuada a sua recuperação por conquista. Impedia-se deste modo o acesso da Ordem de Avis à costa Atlântica, reservando-se espaços de influência e de direito de conquista, no actual Alentejo.
Contudo, que provas temos nós para aceitar uma conquista almóada do Torrão em 1184, se aparentemente a fonte portuguesa de 1186, sugere a inclusão deste território no espaço português?
Temos ao nosso dispor a seguinte documentação:
1 – A Fonte Muçulmana do desastre de Santarém ocorrido em 1184, que relata a conquista e pilhagem de um hisn Turrus a sul de Santarém, no caminho para Beja e Sevilha.
2 - Denominação toponímica de Exarramam[17] ao rio que atravessa a serra das Alcáçovas e passa por esta região, que só tem sentido após a construção de uma musalla no Torrão, só possível em contexto de domínio militar almóada.
3 – Por último, chamamos a atenção para um facto aparentemente inexplicável.
A enumeração dos locais que figuram na delimitação do Termo de Alcácer, tem sempre a serra das Alcáçovas e o rio Xarrama como ponto de partida para Sul. Para Norte omite-se o rio, mas permanece o nome da serra, o que é compatível na marcação de um limite no espaço geográfico. Verifica-se que para sul, os dados são um pouco vagos e as linhas imaginárias atravessam charnecas e espaços entre rios. Para Norte da serra das Alcáçovas, existe maior riqueza de pormenores, apesar de delimitar menor território.
Não há dúvida que em 1186, a serra das Alcáçovas poucos quilómetros a norte do Torrão é um ponto de referência geográfica que todos os cristãos na época conheciam bem e que o documento procura frisar bem e porquê?
Este dado só tem sentido, se esta serra for entendido como uma fronteira”não assumida” de um território recentemente perdido, ou seja:
- Para norte o território ainda é cristão, inserido no Reino de Portugal e sob gestão da ordem de Santiago, o que parece não acontece para sul. Supomos deste modo que o Torrão estaria de novo sobre o domínio islâmico.
Após uma primeira presença portuguesa nesta região que teve início em 1160, verificamos que os 31 anos até 1191 só têm valor absoluto para Alcácer.
Em relação ao território que fica para sul em direcção à serra de Grândola e para nascente em direcção ao Torrão, os dados disponíveis permitem aceitar uma presença portuguesa que perdurou menos tempo. Se tomarmos como certa a data de 1184 para a conquista almóada do Torrão, teremos uma primeira presença portuguesa neste castelo de 24 anos, o suficiente para cimentar a presença da Ordem de Santiago neste espaço de fronteira com o território de influência de Évora.
Mas se em relação à primeira presença portuguesa no Baixo Sado, ela foi relativamente mais extensa para Alcácer, com mais de 7 anos em relação ao Torrão, quando em 1217 se dá a conquista definitiva de Alcácer, estamos a crer que se deu o oposto, ou seja:
- Sabemos em que data se deu a conquista definitiva de Alcácer, nos finais de 1217, mas nada sabemos sobre a conquista definitiva do Torrão e em que ano ocorreu.
Geralmente os “silêncios” podem ser lidos como factos ocorridos sem muito interesse para relato futuro, tendo em conta o engrandecimento da figura régia e porquê?
Tendo em conta o contexto da época, em pleno clímax da guerra de conquista, a “legitimidade régia” para governar um reino, seja em Portugal ou nos vizinhos Hispânicos, media-se em conquistas efectuadas à força, regadas por sangue, de ambos os beligerantes. Só assim se podia ter acesso sem restrições aos territórios conquistados, gerindo-os de forma a satisfazer os interesses políticos em vigor na altura.
Em 1217, quem governa é D. Afonso II, que em termos de “curriculum militar” apresenta debilidades graves que pode por em causa a sua legitimidade como rei de Portugal.
Ciente deste facto, é sintomático que imediatamente após a conquista de Alcácer e apesar de ausente, facto que não lhe é abonatório, D. Afonso II apressou-se a comunicar o feito ao Papa, solicitando-lhe o seu reconhecimento como rei, legitimo herdeiro de D. Afonso Henriques, facto que é confirmado pelo Papa.
Neste contexto, como devemos ler o “silêncio” da conquista do Torrão?
2.2. A Inserção Definitiva do Torrão no reino de Portugal
Se o Torrão fosse um “simples castelo” na dependência de Alcácer, seria natural que pouco depois da conquista de 1217 o castelo fosse abandonado pela sua guarnição.
Mas o Torrão, apesar de dependente de Alcácer, seria mais do que um “simples”castelo de fronteira perante Évora e a sul de Montemor-o-Novo.
A construção de uma musalla em contexto almóada, terá atribuído ao Torrão um prestígio que lhe deu projecção regional no Garb al-Andalus, como o principal ponto de encontro e reunião de voluntários muçulmanos para o “martírio” em território de fronteira.
Contudo, após o desastre almóada de Navas de Tolosa em 1212, o poder Almóada perde o seu vigor e as polémicas religiosas, fragmentação política e desastres militares começam a evoluir de uma forma crescente que vai minar de forma irreparável o aparelho militar dos Magrebinos.
Em Alcácer assume o poder Abdallah ibn Wazir, facto anómalo para a época, que permite ver neste facto a instituição de uma “Dinastia Wazirí” que cristaliza o seu poder em Alcácer e no território militar que assumem como estando à sua responsabilidade.
Se perante a comunidade dos crentes os Banu Wazirí reconhecem o poder legítimo dos Califas Almóadas, na realidade este clã está por conta própria neste sector de fronteira com Portugal e como tal, assumem-se como “soberanos”. Em termos jurídicos e de legalidade islâmica, Alcácer não é encarada como uma Taifa/Reino Autónomo.
O vazio de poder almóada no al-Andalus permitirá a emergência de uma constelação de poderes autónomos inseridos num vasto território que teoricamente pertence ao “estado central almóada”.
Todavia, para o Reino de Portugal, Alcácer após 1212, terá sido encarado como reino autónomo, daí a valorização da conversão de Abdallah Wazir à fé cristã após a conquista de 1217, como vem referido nas crónicas crisrãs.
Após a fuga, o ultimo governador muçulmano alcacerense poderia ter buscado refúgio no castelo do Torrão ou na medina de Beja, contudo preferiu a base segura de Sevilha, e porquê?
- Estes dados só tem sentido, se pensarmos que o Torrão seria inseguro perante o avanço cristão ou que o senhor local não fosse de muita confiança dos Banu Wazir, ou então os dois factores juntos. Tudo isto traduz uma “relativa” autonomia para o Torrão nesta fase, realçada após a conquista de Alcácer.
Mas leituras à parte, continua a persistir uma pergunta sem resposta:
- Em que data foi conquistado o castelo do Torrão?
- Não sabemos, contudo uma certeza fica no ar. A conquista imediata do Torrão após Alcácer parece-nos impossível em 1217, por uma questão de falta de logística cristã e de uma distância que supera os 30 km, correspondente a 1 dia de viajem.
Se tomarmos à letra a documentação conhecida, que dá a conhecer que após 1217, as defesas do castelo de Alcácer ficaram muito danificadas e que os cruzados escreveram ao Papa para permanecerem em território português mais algum tempo[18], é natural supor que o Torrão tenha ficado em mãos islâmicas por mais algum tempo.
O Papa insiste que a função dos cruzados é combater os muçulmanos na Terra santa e que não devem perder tempo e nem preciosos recursos humanos em Portugal.
Após alguns meses, no início de 1218 o exército cruzado ruma de novo em direcção ao Oriente.
Sabemos por provas arqueológicas, que o sistema defensivo almóada em Alcácer, não foi recuperado na sua totalidade, revelando provavelmente défice de recursos e de conhecimentos técnicos por parte dos cristãos.
Tendo em conta que parte da população muçulmana terá ficado após a conquista, o interesse da Ordem de Santiago é tornar operacional a cidade, relegando para uma fase posterior a ocupação efectiva do espaço rural e castelos anexos.
Parece-nos sintomático que o Foral atribuído a Alcácer em 1218, refira unicamente a existência de aldeias e nunca de castelos, o que permite clarificar a permanência islâmica no Torrão ainda nesse ano.
A anexação do Torrão terá assim acontecido num ano posterior a 1218 e talvez tenha resultado de um pacto estabelecido entre a Ordem de Santiago e a população muçulmana aí existente.
Devemos compreender que apesar do antagonismo dos beligerantes, alguma população muçulmana optava por ficar debaixo do domínio cristão, facto que era mal visto por parte do poder islâmico.
De forma a contornar a questão da legalidade desta postura contrária ao direito islâmico, alguns pensadores muçulmanos começaram a defender a ideia de que esta permanência em território “inimigo”, era análogo à fuga inicial de Maomé, de Meca para Medina. Deste modo, uma postura profundamente “ilegal “, começava a ser encarada com relativa tolerância.[19]
Só assim compreendemos por que razão o Torrão emerge na documentação tão tardiamente em 1249, numa altura em que termina a conquista do Algarve e a Ordem de Santiago olha com mais tempo para o seu património e procura rentabiliza-lo.
Os tempos começam a ser outros. O Torrão será emancipado do termo de Alcácer e assume-se como sede de município.
Em 1260 temos a notícia que estava encomendada por um cavaleiro chamado Fernado Vermudes e poucos anos depois, no tempo do Mestre Pedro Escacho as suas rendas ascendiam a 1 8000 libas.
No século XIV, o castelo já tinha caído em ruína. A Ordem vai investir 2 000 libras na sua recuperação, mas o trabalho ficou incompleto, porque era necessário mais 1 000 libras.
O Período Baixo Medieval Cristão do Torrão pertence a outro capítulo da História local e tendo em conta os dados disponíveis, ficará para um outro trabalho.
[2] Sobre esta questão, consultar o artigo de Adel Sidarus, (1993) Um texto árabe do século X relativo à nova fundação de Évora e aos movimentos muladi e berbere no ocidente Andaluz, p. 13-14
[3] De forma a seguir fielmente a tradução de Adel Sidarus, (1993)ob, cit, efectuamos o scaner das páginas. Pelo grande interesse que tem, para entendermos como seria o Torrão nesta fase, inserimos um pouco mais de texto.
[4] Citado por Pérez Alvarez, 1992, Fuentes Árabes de Extremadura, p. 166-170. Mantivemos o texto original em espanhol.
[5] O texto é claro em afirmar que a guerra entre as duas taifas terá sido violenta no Baixo Alentejo. Estava em causa a posse da cidade de Beja. A norte estendiam-se os domínios dos Aftássidas de Badajoz e para Sul, em progressão para Norte, expandiam-se os Abádidas de Sevilha. O choque foi inevitável. Não sabemos o que terá acontecido no Torrão. Teoricamente e com base no que temos defendido desde algum tempo, o Torrão faria parte da “Taifa de Alcácer”. O eclodir da guerra violenta entre esta duas taifas, obrigará os Alcacerenses a optarem por um dos reinos. Terão sido anexados por Sevilha por algum tempo, contudo durante grande parte do século XII, farão parte do território Taifa de Badajoz.
[6] Descontando os naturais exageros das crónicas, o que nos parece interessante valorizar neste texto são os seguintes aspectos:
1 – O âmbito geográfico do conflito, que parece coincidir com o Baixo Alentejo entre o Torrão e Beja, e o sul da Estremadura espanhola
2 – Estamos perante um território povoado, semeado de fortalezas, que garante o controle territorial e “expressão do poder” de cada um dos beligerantes.
3 – A base económica parece concentrar-se na criação de gado e na agricultura.
4 – Apesar de existir a figura do soberano, este depende das alianças de “senhores locais”, instalados em castelos e que atentos às conjunturas políticas, poderiam oscilar as suas lealdades! O Torrão poderia ser um desses casos, dada a sua situação de fronteira entre estas duas taifas.
[7] Apesar da distância cronológica, dos actores serem diferentes e de reportarem a realidades geográficas completamente distintas, o ambiente das II Taifas, apresenta alguns pontos de semelhança com o actual Afeganistão.
[8] Sobre esta questão, consultar o nosso trabalho, Carvalho, 2008, Alcácer do sal, disponível em PDF no site do município de Alcácer.
[10] Sobre esta questão, consultar o nosso trabalho, Carvalho, A Rafael (2008) ALCÁCER DO SAL DO SAL NO FINAL DO PERIODO ISLÂMICO (SÉCULOS XII-XIII): Novos Elementos sobre a 1ª Conquista Portuguesa. Colecção Digital - Elementos para a História do Município de Alcácer do Sal, Nº 1.
[11] Alcácer, base naval, porto natural do Alentejo e Évora, centro de cultura e base militar importante.
[12] Documentos de D. Sancho I (1174-1211) Vol I. Transcrição de Rui de Azevedo, P. Avelino de Jesus da Costa e Marcelino Pereira, 1979, doc. Nº 14, p. 22-24.
[13] Facto que também acontece no país vizinho.
[14] Sobre a importância da toponímia para compreender o território e como “fonte histórica”, é interessante a reflexão de Roldán Castro, 2004, El Paisaje Andalusi: Realidad Histórica y Construccion Cultural, p. 33.: “ La toponímia expresa igualmente el reconocimiento del médio, la valoración del entorno y, debido a su persistência en el tiempo, la fuerza de la memoria histórica. Nombrar un lugar e identificarlo con ciertos rasgos naturales de características notables o singulares no es sino interpretar el paisaje, sentir e interiorizar dicha realidad física.”.
[15] Sobre esta questão consultar o nosso trabalho sobre Alcácer no Final do Período Islâmico (2008), que é o Nº 1 desta colecção em formato PDF. (ver nota seguinte)
[16] Carvalho, 2008. Alcácer no Final do Período Islâmico (Séculos XII-XIII): Novos elementos sobre a 1ª Conquista Portuguesa, Colecção on-Line – Elementos para a História de Alcácer, nº 1, p. 27.
[17] Segundo a nossa proposta, que será apresentada mais à frente, o topónimo Exarramam, poderá derivar da palavra, wadi Sari´a Jama (rio da Musalla)
[18] Afirmando ao Papa que a sua presença era importante para recuperar o sistema defensivo alcacerense.
[19] A problemática da permanência de populações islamizadas em território conquistado pelos cristãos, é uma questão nova, que teoricamente nunca tinha sido objecto de reflexão. Não podemos esquecer que a base cultural islâmica e o seu “corpo legislativo” foram elaborados durante a fase de expansão, que durou alguns séculos. Nunca tinha sido previsto que poderia haver um retrocesso territorial.
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